sábado, 23 de agosto de 2014

Como é a vida de um Nômade Digitai?
Unknown20:06:00

No mês de fevereiro o Projeto FÊliz com a Vida completou 6 meses. Ao mesmo tempo em que parece que foi ontem que eu embarquei nessa aventura com uma lista de livros sobre a felicidade, planos e sonhos a serem realizados, também parece que faz 6 anos que eu deixei a vida que eu tinha antes para trás.
Não só pela intensidade que se vive quando tudo é novo e desconhecido, mas também pelas mudanças constantes que acontecem quando você adota um estilo de vida como este.
Quem acompanha o projeto, sabe que as minhas reflexões sobre a felicidade são muito realistas e sempre tentam mostrar que não existe milagre. Ser feliz exige esforço e não é algo que acontece magicamente. Por isso, hoje vou falar um pouco sobre o assunto que eu mais tenho recebido perguntas nesses 6 meses de estrada: minha vida como nômade digital.

O que são nômades digitais?

São pessoas que se aproveitam da tecnologia e da internet para realizarem seu trabalho independentemente do lugar onde estejam. Eles não tem moradia fixa e obviamente trabalham em negócios  que possam ser geridos online. Essa comunidade é bem grande, mas hoje ainda concentra muitos americanos, europeus, alguns australianos e infelizmente, pouquíssimos brasileiros ou mesmo sul-americanos.
A primeira em vez que eu ouvi essa expressão foi há quase 2 anos, quando conheci o Mark Manson, meu atual namorado. Ele vive como nômade digital há 5 anos e conhecê-lo fez a minha cabeça quase explodir. Não conseguia parar de perguntar: Como assim você mora onde quiser? Como assim você ganha dinheiro trabalhando online? Como assim você tem vários amigos que fazem isso? Como assim? Como assim?
Minha cabeça se afogou em um mar de curiosidade ao mesmo tempo em que meu mundo desabou. Tudo o que eu sempre pensei sobre carreira, sobre ter de trabalhar como louca por 335 dias para me contentar com 30 dias de férias, sobre trabalhar 30 anos e se aposentar, sobre comprar um apartamento e pagar por 10 anos… Tudo isso podia ser diferente? E o que eu percebi foi que sim, não era fácil mas, podia ser diferente.

Quem pode ser um nômade digital?

Um dos grandes precursores desse estilo de vida foi o americano Tim Ferris, que ficou milionário por causa do best seller “The 4-Hour Workweek”. Neste livro ele apresenta uma fórmula bem simples, mas não muito realista de que todo mundo é capaz de ter um negócio online e ser feliz trabalhando 4 horas por semana sem ter de esperar a aposentadoria para aproveitar a vida.
Este discurso ganhou tamanha força que existem milhares de sites e negócios online no mercado americano que ganham dinheiro vendendo a mesma ideia e motivando pessoas a pedirem demissão e a construírem o trabalho dos seus sonhos, se possível, viajando. O problema é que muitos deles trazem somente o discurso sobre a geração wireless e o de que você deve seguir a sua paixão, mas no fundo, não ensinam absolutamente nada de útil.
Seguindo essa linha de raciocínio, teoricamente, todo mundo pode ser um nômade digital, certo? Afinal, é muito simples entrar no WordPress e começar um blog de graça, montar uma loja online vendendo produtos da China ou até criar um brechó online. Também existem profissões em que é possível trabalhar como freelancer que é o caso de designers gráficos, programadores, escritores, fotógrafos, jornalistas, blogueiros, consultores e coachings, por exemplo.
A grande verdade é que, como em todas as profissões existentes no planeta, alguns vão dar certo e vão ser bem sucedidos,  e outros (quase sempre a grande maioria) não.
Não porque eles sejam menos competentes do que outros, mas porque é preciso ser realista e entender que essa não é uma escolha de vida fácil e também exige tanto quanto ou até mais trabalho e sacrifício do que o emprego que você provavelmente tem hoje em dia.

Nômades digitais não são mochileiros e nem estão em um período sabático.

Isso não significa que uma coisa exclua a outra, mas não é porque você é um nômade digital, que vai viver perambulando por hostels fazendo check-list de pontos turísticos e também não significa que em algum momento você vai “se encontrar” e voltar para casa.
Ser nômade digital é uma decisão de vida. Eles conscientemente não têm uma casa para voltar. Eles escolheram não ter raízes em seus países ou em qualquer outro país onde eles venham morar eventualmente. Eles não estão fugindo de nada e nem estão em busca de nada. Eles simplesmente aproveitam o percurso e as novas paisagens enquanto vivem a vida e trabalham “normalmente”.
É claro que mudanças acontecem no percurso. As pessoas casam, têm filhos, expandem seus negócios ou mudam seus gostos pessoais. Mas aqueles que decidem viver esse estilo de vida geralmente acabam conciliando tudo isso com a vida na estrada.
Quando olhamos de fora, parece a vida dos sonhos de qualquer um. Viajar pelo mundo sem precisar estar de férias, trabalhar de onde quiser e ainda ganhar dinheiro! Mas, ser um nômade digital tem seus altos e baixos e, depois de viver dessa forma por 6 meses, eis o que posso dizer:

Sim, é tão legal quanto parece porque…

… temos a oportunidade de conhecer mais profundamente vários lugares.
Meus primeiros 6 meses foram divididos entre Tailândia, Vietnã, Camboja, Filipinas, Indonésia, Singapura, Malásia e Hong Kong. Alguns por meses, outros apenas por poucos dias, afinal, a ideia era ser nômade. Não digo que seria impossível visitar todos esses lugares em 30 dias de férias, mas a forma com que você interage é totalmente diferente.
… conhecemos pessoas e culturas incríveis o tempo todo.
Eu sou radicalmente contra o ditado popular “os opostos se atraem”, pois acho que o que acontece é exatamente o contrário.
Você atrai quem você é, por isso, é inevitável que você acabe se relacionando com outros nômades digitais na estrada. Isso faz com que você tenha contato com pessoas que estão fazendo coisas impressionantes, que ajudam negócios a crescerem e que estão levando o conceito de empreendedorismo para outro nível.
Muito diferente do que ler sobre essas pessoas, é se inspirar convivendo com histórias de vida, além de estar em contato diário com a verdadeira cultura de cada lugar, já que você passa mais tempo do que um curto período de férias em que só é possível conhecer os pontos turísticos.
… temos flexibilidade de horários.
Uma das coisas mais importantes para mim atualmente é ser dona do meu tempo. Eu decido se vou trabalhar de madrugada, se vou acordar cedo, dormir a tarde, ir à academia no meio do dia ou se vou fazer o que tenho de fazer de um aeroporto indo de um lugar para o outro.
Viver no esquema de trabalho das 9h as 18h era uma das coisas que mais me massacrava quando eu trabalhava em agência. Principalmente pelo fato de você entrar as 9h, mas raramente sair as 18h o que faz com que seu dia simplesmente evapore sem que você perceba.
Isso quer dizer que hoje eu trabalhe menos? De jeito nenhum! Há dias em que eu chego a trabalhar de 10 a 12 horas. A diferença é que eu posso escolher como vou distribuir essas horas durante o meu dia.
… o custo de vida é relativamente mais baixo.
Esse é um item que confunde as pessoas em relação à quantidade de dinheiro que é preciso ter (ou ganhar) para viver a vida viajando. Se eu fizer uma comparação entre a vida que eu tinha em São Paulo antes de eu me mudar e a minha vida no Sudeste Asiático, o meu custo de vida diminuiu em 60%.
Num primeiro momento é impressionante pensar que hoje eu vivo com 40% do dinheiro que eu vivia em São Paulo, não é? Mas é preciso avaliar outras coisas também.
Quando você não está vivendo na sua cidade, você abre mão de coisas que não abriria se estivesse vivendo a sua vida normalmente. Você sabe que só vai ficar naquela cidade por no máximo 3 meses, então, se o apartamento com a melhor localização e melhor preço não for necessariamente o mais bacana não tem problema, afinal, você vai morar lá por pouco tempo mesmo.
Quando você está começando um negócio ou trabalhando em um projeto como o meu e não tem muita estabilidade financeira é uma excelente opção, mas o mesmo não é verdade caso você decida viver em um país de primeiro mundo, por exemplo. Até porque, infra-estrutura custa caro em qualquer lugar.

Mas, nem tudo são flores porque…

… estamos trabalhando em lugares onde quase todo mundo está de férias.
Nômades digitais não são turistas. Eu morei no Vietnã por 3 meses e não fiz nenhum dos vários roteiros turísticos do país. Foi um período em que eu estava totalmente focada em trabalhar na pesquisa e em outras coisas. Por outro lado, tive a oportunidade de fazer uma imersão na cultura e também de fazer amigos que fizeram com que a cidade de Ho Chi Minh tivesse um significado totalmente diferente do que teria se eu a tivesse visitado de férias.
Também houveram dias em que eu estava em uma das praias mais lindas do mundo na Tailândia e tudo o que eu queria era passar o dia todo esticada em uma canga tomando Sol, mas estava preocupada com o trabalho que precisava entregar.
… temos de lidar com o stress que é precisar estar conectado o tempo todo.
Quando você trabalha online acaba sendo 100% dependente de internet. Nós, brasileiros, sabemos bem que quando não há infra-estrutura a internet ou 3G não são confiáveis. Isso acontece muitas vezes dependendo do lugar onde você está viajando. Passei por situações em que eu precisei ir a 5 lugares diferentes até que encontrasse um café com uma conexão decente. Ou passar 2 dias inteiros com dor de barriga porque não conseguia entrar na internet.
… não pertencemos a lugar nenhum.
Ter um lar faz falta. Por lar entenda qualquer lugar onde você se sinta confortável e seguro que não necessariamente é o lugar que você deixou antes de partir.
Embora você mantenha contato com a sua família, amigos e também faça novos amigos na estrada, faz falta ter uma comunidade próxima com quem você possa se relacionar mais profunda e intimamente, trocar ideias ou simplesmente encontrar para sair no fim de semana.
Sem contar que, para quem é solteiro, acaba sendo muito, muito difícil ter um relacionamento estável vivendo esse estilo de vida.
… nós somos sem fronteiras, mas o mundo não é.
Vistos são um problema constante na vida dos nômades digitais. A não ser que você tenha um passaporte europeu que é a melhor coisa que pode acontecer a um ser humano nascido no Brasil, você vai ter de lidar com o fato de que os vistos variam entre alguns dias, 1, 3 e, raramente, 6 meses.
Por mais que você se apaixone por um lugar e decida ficar, muitas vezes isso não depende da sua vontade. Como investir em vistos mais longos ou residência é geralmente caro e trabalhoso, isso faz com que sejamos quase obrigados a nos mudar constantemente.
A forma com que cada um lida com isso está totalmente relacionada ao quanto cada um quer viver de um jeito diferente. Tem gente que não suporta instabilidade e mudanças constantes e isso é ótimo, pois precisamos dessas pessoas para que haja equilíbrio no mundo.
E, mesmo para quem sonha em viver desse jeito, saiba que não é fácil. O segredo é fazer um balanço e avaliar se os pontos positivos te fazem mais felizes do que os negativos e aí sim, vale muito a pena!
É claro que essas são percepções baseadas na minha experiência pessoal, sendo brasileira e tendo vivido apenas 6 meses no Sudeste Asiático conhecido por ser um destino relativamente barato e atraente principalmente entre os iniciantes.
Não faço a menor ideia se eu vou viver essa vida para sempre, mas nos próximos 6 meses a aventura continua, desta vez, nas Américas ;)
No próximo post eu vou listar algumas pessoas que eu conheci pessoalmente (ou não) e que tem histórias inspiradoras vivendo como nômades digitais ou simplesmente vivendo uma vida livre dos padrões que estamos acostumados.
Por isso, convido você a entrar nessa conversa com suas perguntas nos comentários, assim a minha lista também vai atender ao que vocês mais gostariam de saber.